sábado, 23 de abril de 2011

O verdadeiro significado da Páscoa



Por Jorge E. M. Geisel
Advogado


Não fosse a Internet, não teríamos  a oportunidade de interagir com tamanha velocidade e ubiqüidade.Como os desígnios divinos nos movem em direções providenciais,  não podíamos deixar de enviar palavras relativas à celebração  cristã da Páscoa — pois, ela sempre nos tocou mais fundo   do que qualquer outro evento judáico-cristão. Para o povo  judeo, trata-se do Pessach, a festa comemorativa da sua libertação  do cativeiro faraônico. 

O significado da Ressurreição é mais prontamente captado pelos povos acima do Equador, coincidindo com a estação da Primavera. No Hemisfério Meridional, a idéia  costuma exigir uma percepção mais sutilmente filosófica, que  nos permita entender que os ciclos temporais da Natureza correspondem  às etapas espirituais do pecado, do sofrimento, da morte e o da derradeira libertação. Tal entendimento descortina, a   quem cultive o hábito salutar de amar a Deus sobre todas as coisas, um cenário grandioso de respostas aos problemas políticos  e sociais da heróica sobrevivência humana, em suas dimensões  materiais e espirituais. 

A Reforma soube sistematizar o significado cristão da Páscoa, resultando em benefícios de ordem prática,  para os povos que a adotaram em suas profundas reformulações éticas-religiosas. Poderemos citar, assim por exemplo, na  área econômica, o lucro abençoado — se advindo do capital,  fruto da iniciativa honesta ou do labor dignamente exercitado. O empenho responsável e a educação cristã familiar contínua,transformaram povos muito limitados a territórios desfavorecidos em poderosos empórios de progresso, de realizações plenas, em todos os  níveis da capacidade e do engenho humanos.

A Ética Cristã, assim posta em ação concreta, ensinada e treinada desde a tenra idade infantil,  rompeu os barreiras dogmáticas que separavam a cultura filosófica  e científica da consecução da Verdade, e a cultura moral e  artística do Bem e da Beleza. Em contra-partida, a ausência  do ensino religioso, em país como o dos Brasis, tem sido uma  das razões para o declínio da moralidade ética - o mais forte  pilar da Democracia. Ao país não não foram dispensadas as  atenções espirituais devidas, em seu período de formação histórica  e, em conseqüência, foi seu povo dramaticamente prejudicado em todos os sentidos. A mitologia positivista republicana  centralizadora bloqueou e deformou, na educação programada  pelo Estado, a inteligência infantil. Isolou-se a vida escolar  de toda uma base cristã —  ou seja, eliminou-se, na formação  das almas, a influência de valores espirituais e foi promovida  a difusão cultural de uma mitologia provinda de implante sinistro da Ordem e Progresso, a qualquer preço e a qualquer custo, pela ignorância religiosa, na impiedade da hierarquização social e econômica, em desmoralização progressiva das auto-estimas,  sem expectativas de Cidadania. Eis a principal razão do país  não estar dando certo, agravada pelas diferenças sociais e  regionais profundas e tão conflituosamente administradas. A gradativa degenerescência, sobre aquelas consciências sem princípios, de fibras morais amolecidas, influenciada pela escola disassociada do espírito cristão, interpenetra na comunicação social, progressivamente desvinculada dos valores permanentes da civilização ocidental cristã. 

O resultado do predomínio materialista pode ser observado, diariamente, no amplo noticiário dos escândalos públicos,envolvendo políticos, servidores do Estado, até mesmo juízes,empresários, profissionais liberais, líderes de obras sociais e a própria massa de deserdados espirituais das religiões ausentes. Nas universidades, as ironias mal disfarçadas envolvem qualquer alusão às igrejas em geral. A dialética materialista ocupa indevidamente o espaço na formação dos homens e das  mulheres dirigentes do futuro. 

O belo Catolicismo, com seus universais  exemplos de fé e de dignidade humana, com suas benemerências, é relegado ao plano inferior dos esquecimentos, sob análises meramente casuísticas de seus eventuais erros históricos, normais por haverem sido provocados pela própria imperfeição humana, nas ligações espúrias com as coisas de estado, tem sido vítima constante dos ataques e das críticas mal-intencionadas.E, mesmo dentro de seu construtivo e universal conteúdo pastoral, o catolicismo tem sido tomado de assalto pelos que se pretendem adonar de sua força e de seu merecido prestígio, direcionando-o  para objetivos distorcidos pelas crenças ideológicas, vocacionadas  ao materialismo histórico e à escravidão do Indivíduo ao Estado onipotente. 

O resultado da ausência da prática diária da religião está estampado: sem ensino religioso, o  amplo desvirtuamento democrático em direção à anarquia. O  despreparo ético e a submissão ao dever jurídico-social, sem  o exercício da consciência. Se desejamos a autodeterminação  democrática e valorizadora do Indivíduo, com a consciência de uma promessa já iniciada, devemos nos voltar ao exercício permanente da Fé Cristã, na ressurreição diária do espírito Pascal que nada edificará, se ele não representar, também, a libertação de nossos preconceitos e de nosso desamor ao próximo.

Se for nossa intenção sincera, a de criar e desenvolver uma sociedade de confiança, espiritualmente sadia e politicamente estável, deveremos acertar na orientação religiosa cristã. Sem o seu valor e precioso auxílio, não  haverá posse da realização com a felicidade. Repetiríamos  o ciclo dramático, do qual nos pretendíamos libertar: no de  errar culpadamente, até o desmoronar em catástrofe moral irremediável.




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